Vida assombrosa

alevinos de espadaMe pego surpreso com os novos habitantes do nosso pequeno aquário.

Já vi muitas vezes. Já observei a variedade de soluções que vida oferece para perpetuar a existência de pequenos peixes conforme suas espécies: alguns criam ninhos de bolhas e vigiam zelosamente, removendo ovos mortos e recolhendo de volta aqueles que eventualmente se soltam; outros guardam suas crias na boca ao menor sinal de perigo. Não me canso de ver.

Desta vez, junto as crianças e observamos alguns filhotes que saem não de ovos, mas deixam o corpo de sua mãe já nadando — pequenas miniaturas de seus pais — totalmente prontos para buscar por si mesmos o sustento e a proteção que vão precisar para sua sobrevivência. A engenhosidade do hardware e do software que possibilita isso a eles nunca deixa de me impressionar, por mais vezes que eu já tenha visto isso anteriormente. Em pouco tempo, alguns deles estarão crescidos e irão repetir a mesma história de seus pais, desde já programados para seguir este script com precisão. É a vida em seu papel de se manter e se renovar.

Procuro passar aos meus filhos essa admiração quase deslumbrada pela genialidade com que a vida se sustenta e avança. A vida é tão abundante sobre o planeta Terra que é dada como certa, como simples resultado inevitável de condições específicas favoráveis a que ela surja.
Nem por isso ela deixa de impressionar. O escritor e pregador do ateísmo, Richard Dawkins, afirmou “que só Darwin tornou possível a um ateu ser plenamente realizado intelectualmente”. O que ele quis dizer com isso é que a vida, em sua diversidade e complexidade grandiosa sempre clamou por uma autoria, um fator causador. Para um ateu recusando com todas as suas forças admitir a possibilidade de um criador, a idéia da evolução conduzida pelo mecanismo da seleção natural passou a contrapor a idéia de criação, liberando a mente ateísta da preocupação com um criador e, assim, oferecendo-se como a solução filosoficamente perfeita para o impasse intelectual. Mas, será cumpriu mesmo o prometido? O conceito de evolução de fato exclui ou dispensa o conceito de criação ou apenas desloca este último para um outro nível mais fundamental?

À parte todo questionamento que a própria Ciência tem feito sobre a capacidade de um mecanismo de seleção aleatório produzir a informação necessária para a vida, se a diversidade da vida e seu poder de organização, reprodução e sustentação são frutos de um mecanismo qualquer, estamos então falando de algo igualmente, ou ainda mais assombroso que a vida em si. Não há como alguém se surpreender com a engenhosidade do projeto de um produto qualquer e, ao descobrir que ele é feito por uma máquina ainda mais engenhosa, de funcionamento autônomo, versátil e diversificado, concluir que nenhuma inteligência afinal tenha sido necessária, uma vez que a tal máquina “fez tudo sozinha”.

Hamilton Furtado

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