A Ingenuidade na Prática

aparelho de barbearNa revista Galileu deste mês, um jornalista ateu tenta viver por 2 meses dentro daquilo que entende ser “de acordo com a Bíblia”.
Para isso, adota a estratégia de selecionar alguns trechos bíblicos, separando-os de seus respectivos contextos e tentando seguir com se fossem “gotas de sabedoria”. Dentro disso, por exemplo, o episódio onde Jesus recomenda a uma pessoa específica a venda de seus bens, passa a ser, na concepção do ateu-jornalista/jornalista-ateu, uma regra generalizada e absoluta do “seguir a Bíblia”.

Viver segundo a Bíblia não é fácil, mas não pelos motivos apresentados na matéria.

No geral, o conteúdo da matéria poderá até agradar uma parte do público alvo da revista, especialmente aquela constituída por adolescentes em busca de contestação com alguma dose de humor.
Mas, em termos de informação útil, o que a matéria acaba por demonstrar é apenas a enorme ingenuidade — para não dizer ignorância — dos autores e editores responsáveis por ela, no que diz respeito ao modo de vida daqueles que dizem ter a Bíblia como guia para suas vidas. Além de um enorme apego à cultura do estereótipo e do preconceito, fortalecendo a opinião dos que acreditam que para se manter ateu, é necessário cultivar uma boa dose de ignorância e de distanciamento de certos assuntos.

Pegar um punhado de frases soltas, sem seus respectivos contextos, está no topo das regras do que deve ser evitado na interpretação de qualquer texto. O da Bíblia não é exceção.
Melhor faria o autor em favor da boa informação, se ao invés de simplesmente tentar clonar a experiência do seu colega americano, exercesse um mínimo de crítica indagando-se, por exemplo, se seria mesmo necessário manter a incômoda barba, já que tantos seguidores da Bíblia não a mantém. Mas é claro que isso tiraria muito da graça da brincadeira, é verdade.

E, a propósito, vale observar que se a intenção de matérias como essa é alavancar vendas, que não, a matéria não me fez comprar a revista. Foi suficiente folheá-la na banca…

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