Design Inteligente: criação e evolução

Broto de samambaiaEu, como cristão que de desde muito cedo aprendi a apreciar a excelência, a engenhosidade e a lógica por trás da vida e das soluções da natureza, da mesma forma que desde há muito tempo me vi literalmente dentro do confronto teórico e ideológico em torno do assunto das Origens e da diversidade da vida, compreendo e respeito o esforço a que muitos cristãos — acadêmicos ou não — se dedicam numa tentativa de demonstrar que não há incompatibilidade intelectual entre a fé e a razão, de que é plenamente possível concliar uma cosmovisão teísta com o conhecimento científico, ou que procuram dissecar informações e ideias que, sob o rótulo científico, são manipuladas por ideologias anti-teístas ou anti-cristãs, numa suposta polarização entre Evolução x Criação, com a intenção de refutar a necessidade ou mesmo a existência de um Criador.

Considero também louvável, para o bem da própria ciência, toda inciativa de se demonstrar as limitações da Teoria da Evolução — que não são poucas — de um ponto essencialmente científico e acho ainda mais importante e urgente a proposta de se analisar o uso distorcido e até fraudulento da ciência, demonstrando ao público quanto da discussão se fundamenta de fato em ciência e o que é apenas má filosofia, ou mera ideologia travestida de ciência. Não são muitos os cientistas dispostos a essa tarefa de colocar o dedo na ferida do evolucionismo darwinista, principalmente por receio das inevitáveis críticas, embora certamente não seja este o único motivo.

A discussão sobre o Design Inteligente, que eu acompanho há mais de 15 anos, surge no cenário científico dos debates sobre as Origens propondo um questionamento à teoria predominante, afirmando que a complexidade da vida não se explica pela variação aleatória e seleção natural não direcionada, mas é resultante de um processo inteligente. Sua proposição fundamental, entretanto, não é a de uma contraposição sistemática e inflexível ao conceito de evolução que, diga-se de passagem, possui uma variedade de significados.

É compreensível, por isso, o esforço que seus defensores fazem ao insistir enfaticamente no distanciamento, real, entre a abordagem científica do DI e o Criacionismo baseado numa convicção meramente teológica. Porém, é importante não perder de vista que criacionismo é antes de mais nada um conceito cujo único fator essencial é a noção da vida criada. Ou seja, a vida como fruto de um intento, de uma inteligência, em oposição a uma casualidade despretensiosa e não intencional do universo. A vida foi planejada. E disso, honestamente, o DI não discorda. À parte  isso, a natureza desse criador, sua motivação e sua identidade, fogem ao escopo do estudo do DI e pertencem mais às variadas cosmovisões sobre a origem do universo e da vida.

O movimento do Design Inteligente tem tido grande competência em questionar uma série de premissas do evolucionismo darwinista, em analisar aspectos diversos da vida no planeta Terra apontando a consistência dos mesmos com a ótica do Design Inteligente, notadamente, a impossibilidade do surgimento da complexidade de um determinado órgão ou estrutura biológica por processos não dirigidos.

Entretanto, ainda falta ao DI, até o momento, o preenchimento de uma lacuna, que é justamente propor uma alternativa ao surgimento aleatório da vida e da diversidade biológica. “Se tal órgão não surgiu assim, então como foi?”; “A vida teria surgido uma vez, ou várias?”. São algumas das perguntas que devem ser abordadas. Quando isso ocorrer, o Design Inteligente terá avançado muito no sentido de se firmar como uma teoria completa da origem e diversidade da vida e em apresentar, especialmente a um público leigo, as implicações não somente científicas como também filosóficas e ideológicas de sua adoção ou negação como teoria.

Hamilton Furtado

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