Não bastasse o código genético descrever a informação necessária para a produção das proteínas com que todos os seres vivos são construídos, uma equipe chefiada pelo cientista John Stamatoyannopoulos, da Universidade de Washington, em Seattle, descobriu que o DNA carrega uma segunda camada de informação, responsável pela forma como os genes são controlados.
Esta segunda linguagem estaria sobreposta à primeira, daí o fato de ter permanecido oculta por tanto tempo. Já era conhecido da ciência que o código genético utiliza um alfabeto de 64 letras, chamadas códons. A equipe descobriu que alguns códons, denominados dúons, possuem dois significados, um relacionado a proteínas e outro aos genes.
O grande interesse que a descoberta desperta é certamente sobre o potencial de identificação e tratamento de doenças. Porém, Stamatoyannopoulos não deixa de observar a genialidade da solução empregada pela natureza no DNA como forma de armazenamento de informação. Sobrepor dois códigos diferentes em um mesmo espaço é algo engenhoso e notável por si. Mas a engenhosidade do sistema não se limita a isso.
A grosso modo, seria como uma carta contendo em seu texto uma mensagem direta, visível a qualquer leitor e, além dessa, uma segunda mensagem oculta, acessível apenas por alguém capaz de identificar no texto determinadas letras específicas e reordená-las corretamente, compondo com elas uma outra mensagem. Um trabalho que, ninguém pode negar, demanda inteligência, planejamento e coordenação entre todos as partes envolvidas — remetentes e destinatários — sem a qual, a informação permaneceria ignorada.
A deixa que fica é para a pergunta: quantos níveis mais de informação o DNA possui a espera de alguém que os perceba?
Hamilton Furtado
Comentários