“Motorista briga com namorada, coloca o carro em alta velocidade na contra-mão em rodovia e morre após chocar-se com caminhão.” [1] [2] [3]
A notícia sobre Kleber Plens, o homem que decidiu dirigir com seu carro na contramão e em alta velocidade numa grande rodovia de São Paulo causa não só um profundo pesar pela perda de uma vida jovem por motivo perfeitamente contornável. Causa também uma enorme dose de espanto e indignação.
Espanto pela constatação da falta de perspectivas experimentada pelo jovem em face de uma contrariedade.
Indignação pelo descaso de sua decisão em tirar a própria vida de um modo que poderia impactar na privação da vida de outros mais.
Mas tudo isso, o pesar, o espanto, a indignação, só se sustentam diante da convicção de que a vida tem um valor em si mesma.
De outro modo, como justificar que seja melhor viver do que morrer diante de um dissabor existencial? Como justificar que a vida alheia deve ser deixada de fora da resolução individual de alguém que decida dar cabo da sua própria vida?
Não há, portanto, como justificar sentimentos despertados por uma situação desse tipo, dentro de uma cosmovisão que afirme ser a vida uma ocorrência casual e sem razão dentro de um universo que existe e se mantém aleatoriamente governado apenas por impessoais leis da física.
Somente a convicção de que a vida possui uma finalidade nos permite atribuir um valor intrínseco à vida.
Isso não é dizer que um ateu não possa expressar esse tipo de sentimento em tais ocasiões. Pelo contrário, a semelhança das reações de crentes e descrentes nessas horas são inquietantemente surpreendentes e apenas evidenciam o quanto é anti-natural contemplar indiferentemente o desprezo à vida.
Tudo isso nos leva inevitavelmente a duas possibilidades: a consciência da necessidade de um intento por trás do universo, causador desta vida ou à supressão do questionamento crítico diante destas circunstâncias.
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