Corações armados

fora do alvoMais uma vez nos toma de assalto a notícia de alguém que entra atirando em um local público qualquer e mata um grupo enorme de pessoas.

É verdade que a surpresa parece ser cada vez menor a cada novo caso, dada a lista de ataques semelhantes nos últimos anos e que parece nos criar apenas a expectativa de onde se dará o próximo, mas nunca deixa de gerar alguma comoção o fato de alguém, sem motivo aparente, romper a rotina de um ambiente qualquer para matar pessoas que ali estão distraidamente fazendo algo casual em suas vidas, seja numa lanchonete, escola, num parque, ou rua.
O cenário da vez foi um cinema, novamente nos EUA, onde costumeiramente estes episódios têm ocorrido, embora outras partes do mundo também já tenham tido suas variações do tema, inclusive nós, por aqui.

A questão que inevitavelmente sempre se destaca nestas ocasiões é sobre a liberdade de uso das armas de fogo pela população, em face principalmente das leis que, para muitos, são transigentes demais com o comércio e uso de armas por gente comum. Não pretendo fazer aqui apologia nenhuma ao porte de armas, até porque acredito que de fato a maioria das pessoas não tem mesmo condições psicológicas e emocionais para portar e usar corretamente uma arma. Mas uma coisa que deveria ser levada em conta de uma vez por todas é que o que motiva este tipo de acontecimento não são as armas de fogo, mas o desequilíbrio de caráteres malformados, egocêntricos, armados de ódios e frustrações, prontos a explodir na vingança de um senso de justiça deformado.

De fato, as armas de fogo — na sua condição de engenho humano — são potencializadoras, e de forma muito eficaz, do poder destrutivo. Mas é necessário observar que esta eficácia, antes de ser a causa, é consequência de uma demanda anterior por mais eficiência destruidora. Armas de fogo existem há alguns poucos séculos; matanças e barbáries, desde que o homem se deu por gente. Isso tudo significa dizer que, se as armas de fogo um dia fossem de algum modo plenamente erradicadas da face da Terra, novas formas de se eliminar outros seres humanos seriam encontradas para suprir a demanda latente.

Este tipo de ocorrência não é a doença, mas o sintoma de uma sociedade doentia. Eliminar as armas de fogo surtiria algum efeito, pontual e provisório, mas desarmar o espírito das pessoas seria muito mas eficaz. A sociedade, porém, não enxerga sua própria doença, muito menos a cura.

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